(Não) Faça Você Mesmo!
Pensado de acordo com as características do imóvel, os desejos dos moradores (ou futuros moradores) e o orçamento disponível, o projeto de arquitetura é a melhor forma de ter um lar na medida do seu sonho
Espaços integrados e com multifuncionais foram as apostas dos escritórios Casa 100 e Triplex para deixar apartamentos no Huma Klabin (à esquerda) e Forma Itaim (à direita) mais práticos, aconchegantes e totalmente contemporâneos. Crédito:Fotos Gui Morelli | Manu Oristanio
Chegou o grande dia. Finalmente, o tão sonhado apartamento ficou pronto. Com as chaves na mão, é hora de transformar o “imóvel” em uma casa. Para isso, basta reunir todas as referências de revistas de decoração que você vem guardando há tempos e sair por aí comprando móveis e contratando fornecedores. Certo? Não, errado.
Embora essa situação esteja longe da ideal, é assim que acontece em muitos casos. “Depois, com o apartamento pronto, a pessoa descobre que nada conversa com nada, que o estilo da cozinha não tem nada a ver com o do quarto, nem com do banheiro, e que os espaços poderiam ter sido mais bem aproveitados”, diz o arquiteto Zé Guilherme Carceles, que comanda o Casa 100 Arquitetura, em São Paulo, ao lado de Diogo Luz.
Para evitar frustrações – e gastos desnecessários –, a melhor opção é investir em um projeto de arquitetura, desenvolvido de acordo com as características do imóvel, o orçamento disponível e, o mais importante, o sonho de quem vai habitar aquele lar. “O arquiteto consegue visualizar o projeto pronto. Desde o início, consideramos como o espaço pode ser mais bem aproveitado, qual é a melhor combinação de cores e texturas para cada ambiente, de que forma a marcenaria e o mobiliário devem ser pensados”, explica a arquiteta Carolina Oliveira, sócia de Adriana Helú e Marina Torre Lobo na Triplex Arquitetura. “Nosso trabalho é direcionar o projeto a partir de uma visão global, e não fragmentada.”
O restaurante Serafina Itaim e o projeto de um apartamento no Forma Itaim, ambos assinados pela Triplex, são exemplos de como as cores, texturas e soluções propostas em um projeto de arquitetura fazem toda a diferença no resultado. Crédito: Divulgação | Manu Oristanio
Estabelecendo Prioridades
Um dos fundadores do Vapor 324, o arquiteto Thomas Frenk observa ainda que é preciso saber a ordem em que as decisões devem ser tomadas e a prioridade que cada etapa deve ter. “Às vezes, o cliente quer definir a cor das paredes, antes de decidir onde vai ficar a cozinha”, afirma. “O arquiteto está ali justamente para estabelecer o momento certo de decidir cada coisa, para que o processo seja o mais lógico e organizado possível.”
O raciocínio vale não só para projetos residenciais. Independentemente da tipologia (restaurantes, casas de shows, imóveis corporativos, hotéis etc.), o olhar e o conhecimento técnico do arquiteto sempre fazem a diferença. No entanto, quando se trata de imóveis com dimensões reduzidas – um padrão cada vez mais frequente nas grandes cidades –, seu papel é ainda mais decisivo. “É possível ter tudo o que uma pessoa precisa para viver perfeitamente em um apartamento de 40 m², desde que ele seja bem pesado”, observa Carolina. “Abrir mão de um profissional especializado nessa hora pode ser o barato que sai caro.”
Vale lembrar que essa escolha nada tem a ver com deixar de lado as referências reunidas ao longo do percurso nem abrir mão de preferências pessoais. No caso da Triplex, os projetos buscam aliar a linguagem do escritório à personalidade de cada cliente. “Do contrário, todos os nossos projetos seriam iguais”, observa a arquiteta.
O trabalho do arquiteto normalmente parte do entendimento de como a casa será ocupada e dos hábitos e preferências dos moradores. É com base nesse diálogo que o projeto começa a ser desenhado. “Não adianta querer apressar o início da obra. O cliente precisa estar 100% confortável com aquilo que está sendo proposto. Fazer modificações com a obra em andamento é sempre mais caro, complicado e demorado”, alerta Carolina.
Pequeno Notável
Ao executar o projeto de arquitetura de interiores de um dos estúdios de 45 m² do Forma Itaim, entregue pela Huma no início de junho, a Triplex apostou em soluções visando não só ao melhor aproveitamento do espaço como estabelecer propostas complementares à arquitetura do edifício, assinada pelo escritório b720, do premiado arquiteto espanhol Fermín Vázquez. “O apartamento fica em um prédio de arquitetura totalmente diferenciada, com uma composição de cores interessante na fachada, por isso fizemos um projeto mais monocromático, em que as cores aparecem nos detalhes”, explica Carolina Oliveira.
Graças ao projeto de interiores bem pensado, o apartamento hoje abraça todas as atividades que fazem parte do cotidiano: estar, jantar, descansar, trabalhar e até receber. “A integração da varanda possibilitou a criação de uma sala aconchegante, bem iluminada, ideal para receber os amigos”, diz. O resultado é uma morada onde todos os ambientes têm uma função definida e são bem utilizados. Nada está ocioso nem subaproveitado. O projeto buscou ainda estabelecer uma composição de cores e texturas de materiais de forma que o espaço fosse coerente, charmoso e com personalidade, sem excessos nem ser monótono. O resultado é um lar contemporâneo, acolhedor e funcional, totalmente em sintonia com a vida em uma cidade pulsante como São Paulo.
O projeto da Triplex para um dos apartamentos do Forma Itaim permitiu o aproveitamento total do espaço, com destaque para a integração da varanda, que deu origem a uma confortável e bem iluminada sala para estar e receber. Crédito: Crédito: Fotos | Manu Oristanio
Palacete para a música
Pensar um projeto para a nova casa da música em São Paulo. Assim começou a história do Vapor 324 com a Casa de Francisca. Depois da trajetória de sucesso de quase uma década nos Jardins, “a menor casa de shows de São Paulo” precisava de mais espaço. Mas não poderia ser qualquer espaço. O endereço escolhido não poderia ser mais inspirador, o palacete Tereza Toledo de Lara, inaugurado em 1910, no triângulo histórico paulistano, próximo à Praça da Sé.
Para abrigar a Casa de Francisca, o primeiro andar do edifício foi totalmente reformado. “O projeto era bastante complexo, tínhamos de transformar um espaço orginalmente residencial em um lugar que acomodasse vários usos e equacionasse questões como ocupação noturna x diurna, lugares sentados x em pé, shows mais calmos x mais agitados”, explica Thomas Frenk.
Realizado em parceria com Rubens Amatto, proprietário da Casa de Francisca, o projeto envolveu o restauro e a manutenção de grande parte do imóvel, com a inserção de peças contemporâneas, como arquibancada e mezaninos, resultando na atualização funcional do espaço. “Nosso papel, como arquitetos, é ter a capacidade de prever o impacto que cada pequena decisão terá no todo”, afirma o arquiteto. “As pessoas não conseguem ter essa visão tão ampla, e isso faz toda a diferença no resultado.” Além do belo trabalho de recuperação de um imóvel histórico, a iniciativa corajosa se soma a outras que visam trazer mais vida e promover a reocupação e revitalização da região central de São Paulo.
Ao dar vida à nova Casa de Francisca, o escritório Vapor 324 comandou a reforma e a atualização funcional do primeiro andar de um palacete tombado construído em 1910, que envolveu restauração e instalação de estruturas como palco e arquibancada. Crédito: Fotos | Pablo Saborido
Diálogo com a arquitetura
Admiradora do minimalismo, do design escandinavo e da arquitetura industrial. Este é o perfil da cliente que encomendou à Casa 100 Arquitetura um projeto de interiores para seu apartamento de 65 m² no Huma Klabin, na Chácara Klabin. Para os arquitetos, as referências tinham tudo a ver com a linguagem do edifício, assinado pelo Una Arquitetos.
A partir daí, foi uma questão de estabelecer um diálogo entre as partes. “O apartamento está em um prédio com uma arquitetura incrível, por isso procuramos propor soluções que interferissem o mínimo possível nessa boa arquitetura”, explica Zé Guilherme Carceles. Os arquitetos procuraram potencializar qualidades já existentes, como a abundância de luz natural, e manter características que valorizam o imóvel, como a laje de concreto aparente e as tubulações elétricas à mostra. Para completar a composição, foram projetadas estantes feitas de canos de cobre e prateleiras de madeira totalmente em sintonia com a arquitetura contemporânea e a estética industrial.
Para atender às necessidades da moradora, um dos quartos foi transformado em closet. O lavabo cedeu a janela para o banheiro da suíte. A bancada de Neolith ganhou armários na face voltada para a cozinha e recebeu um painel de madeira na parte superior, que acomoda a TV da sala. “O arquiteto tem a habilidade de propor vários usos para um mesmo espaço ou móvel. Ao batermos o olho em um espaço, já começamos a pensar como ele pode ter múltiplas funções”, diz. “Além disso, fazemos escolhas pensando em fazer tudo conversar. Às vezes, o cliente tem muitas referências que não dialogam entre si e podem prejudicar o resultado.”
De Nova York para São Paulo
Coube à equipe da Triplex Arquitetura dar vida ao primeiro espaço do Serafina, um clássico nova-iorquino, fora dos Estados Unidos. A filial brasileira do restaurante que faz sucesso há mais de 20 anos foi instalada nos Jardins em 2010. “O mais desafiador foi convencer o cliente de que a arquitetura que funciona tão bem em Nova York talvez não desse certo no Brasil”, lembra Carolina.
Foram necessárias várias conversas até que a equipe chegasse a um projeto atraente aos olhos do exigente público paulistano, mas que carregasse a identidade da casa-mãe. A estratégia foi usar os mesmos materiais – madeira, tijolos à mostra, obras da artista plástica italiana Michella Martello –, aplicados de forma diferente das casas americanas e combinados a soluções especialmente criadas para a filial brasileira, como um balcão de vidro e cortiça criado para ser preenchido com rolhas de vinho. “Queríamos que o móvel ajudasse a contar a história do restaurante”, diz.
O empenho para mostrar que a arquitetura precisava ser adaptada para aterrissar em São Paulo deu certo. A Triplex acaba de finalizar o terceiro Serafina paulistano, no Complexo JK, depois de ter projetado também a unidade do Itaim Bibi. “É um projeto especial para nós. A cada novo endereço, conseguimos ver uma continuidade e, ao mesmo tempo, uma evolução do nosso trabalho”, finaliza a arquiteta.
Salão do Serafina Itaim, assinado pela Triplex: o principal desafio foi adaptar o projeto ao Brasil, usando os mesmos materiais e acabamentos dos restaurantes da marca nos EUA. Crédito: Divulgação
Crédito: Texto Tatiana Engelbrecht
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Publicado em: 17/05/2017
Categoria: Arquitetura e cidade