Pequenas gentilezas, grandes transformações
Metrópoles superpopulosas, estressantes, competitivas, altamente urbanizadas e extremamente desiguais. É nesse cenário que se desenrola a vida contemporânea – ao menos para uma boa parte da população mundial. A urbanidade é uma realidade irreversível, até porque nem só de mazelas vivem as grandes cidades. São também lugares de muita inspiração, grandes oportunidades e conquistas.
Empreendimentos privados com espaços públicos podem deixar as cidades mais acolhedoras. No Huma Klabin (à esquerda), em São Paulo, e no High Park, no México, áreas ao ar livre estimulam a interação entre as pessoas. Crédito: divulgação | Jaime Navarro / divulgação
Diante desse cenário de contradições e possibilidades, torna-se indispensável investir em soluções para melhorar a qualidade de vida da população e tornar as metrópoles mais amigáveis, inspiradoras e acolhedoras. Mas como fazer isso?
Uma forma é pensar novas maneiras de construir e ocupar o concorrido espaço urbano. “Enxergar além do próprio muro. Esta é uma visão que queremos partilhar com o perfil de morador para o qual construímos: um cidadão conectado com sua época e com sua cidade, que pensa coletivamente e respeita o próximo”, diz Rafael Rossi, fundador e diretor da Huma Desenvolvimento Imobiliário, ao justificar sua escolha por idealizar empreendimentos que estejam em harmonia com paisagem local e estabeleçam uma relação de troca com a cidade.
Contemporânea, a visão do executivo está em sintonia com o que pensam arquitetos, urbanistas e empresários de várias partes do mundo. Mesmo em um cenário de cidades cada vez mais privatizadas, emergem soluções e recursos voltados a estimular a convivência social e oferecer à população espaços públicos, desenhados para serem frequentados e compartilhados por todos. A seguir, conheça alguns deles.
Negócios e convivência
O ponto de partida do projeto CENTRAL ST. GILES COURT, em Camdem, foi transformar um prédio de escritórios em um conjunto de edifícios com múltiplas funções integrado ao entorno, dando origem a uma nova região de passagem e encontro no bairro londrino.
Fruto da parceria dos escritórios Renzo Piano e Flechter Priest Architects, o novo conjunto foi projetado em 2011 e combina escritórios, restaurantes, cafés, lojas e unidades residenciais. A conectividade entre as pessoas se dá por meio de uma enorme praça aberta, por onde passa uma via pública, onde esculturas e árvores dividem espaço com os transeuntes e os usuários dos edifícios, estrategicamente posicionados em torno desse imenso pátio.
A praça gera vida social, reforçando a identidade urbana do projeto. Nesse sentido, o espaço destinado aos pedestres foi uma das preocupações que norteou a equipe. Os cafés e restaurantes que ocupam o térreo dos edifícios também favorecem a ocupação pelo público.
Cada prédio foi pensado para se destacar individualmente, por isso têm altura, cor e orientação solar diferentes. O revestimento cerâmico das fachadas foi aplicado em diferentes tonalidades, para diferenciar as construções e favorecer a integração com o ambiente urbano.
Projetado por Renzo Piano em parceria com o Flechter Priest Architects, o Central St. Giles Court, em Londres, resultou em um conjunto de edifícios de uso misto interligados por uma ampla praça pública. Crédito: Divulgação
Livre passagem
Uma das preocupações recorrentes no trabalho do escritório mexicano Rojkind Arquitectos é integrar seus projetos à escala dos pedestres. Ao ser escolhido para desenhar o edifício de uso misto HIGH PARK, em Monterrey, no México, não foi diferente. Desenhado para tirar proveito da localização geográfica do terreno, o edifício inaugurado em 2015 é composto de dez pavimentos, nos quais estão distribuídos 32 apartamentos, espaços recreativos e de lazer, além de estabelecimentos comerciais, que ocupam o primeiro e o segundo pisos.
Para equacionar a questão de interação com a comunidade, áreas públicas foram incorporadas ao complexo, criando espaços ao compartilhados ao ar livre que podem ser usados tanto pelos moradores quanto pela população. Fundador do escritório, Michel Rojkind costuma dizer que o High Park é um edifício pensado para a cidade, na medida em que abre sua praça pública para ser ocupada cotidianamente. Além disso, os terraços dos apartamentos estimulam a interação entre os vizinhos, promovendo um censo de comunidade.
Construído no México, o conjunto residencial High Park foi pensado para se integrar à escala dos pedestres e tem áreas públicas que podem ser usadas tanto por moradores do condomínio quanto pela população. Crédito: Divulgação
Para equacionar a questão de interação com a comunidade, áreas públicas foram incorporadas ao complexo, criando espaços ao compartilhados ao ar livre que podem ser usados tanto pelos moradores quanto pela população
Uma das preocupações recorrentes no trabalho do escritório mexicano Rojkind Arquitectos é integrar seus projetos à escala dos pedestres. Ao ser escolhido para desenhar o edifício de uso misto HIGH PARK, em Monterrey, no México, não foi diferente. Desenhado para tirar proveito da localização geográfica do terreno, o edifício inaugurado em 2015 é composto de dez pavimentos, nos quais estão distribuídos 32 apartamentos, espaços recreativos e de lazer, além de estabelecimentos comerciais, que ocupam o primeiro e o segundo pisos.
Para equacionar a questão de interação com a comunidade, áreas públicas foram incorporadas ao complexo, criando espaços ao compartilhados ao ar livre que podem ser usados tanto pelos moradores quanto pela população. Fundador do escritório, Michel Rojkind costuma dizer que o High Park é um edifício pensado para a cidade, na medida em que abre sua praça pública para ser ocupada cotidianamente. Além disso, os terraços dos apartamentos estimulam a interação entre os vizinhos, promovendo um censo de comunidade.
Abertura para a cidade
Localizado a duas quadras das estações de metrô Vila Mariana e Chácara Klabin, na zona sul de São Paulo, o condomínio HUMA KLABIN também foi pensado visando à troca com a cidade. “Sabemos que um lar vai além das paredes de um imóvel. O condomínio, a rua, o bairro e a cidade são extensões de nossas casas”, diz Rafael Rossi, fundador da Huma. “Por isso, a relação com o entorno é fundamental. Esse um dos valores da boa arquitetura.”
Assinado pelo premiado escritório Una Arquitetos, o Huma Klabin foi projetado para se integrar à paisagem local de forma harmoniosa. Bem resolvido tanto nas soluções internas quanto externas, o edifício está recuado na calçada. Esse recuo foi transformado em uma área verde aberta, proporcionando uma relação amigável com a vizinhança e dando à cidade um espaço que pode ser desfrutada por todos, sem comprometer a segurança dos moradores do edifício.
A vegetação foi cuidadosamente escolhida para transmitir uma sensação de bem-estar e calma. O jardim conta ainda com bancos, onde é possível fazer uma pausa em meio à correria do dia a dia e conversar com os vizinhos, tomar um sorvete, ver as crianças correrem na calçada, tudo o que torna a vida em um bairro incomparável.
Com projeto de inspiração modernista, o Huma Klabin se destaca ainda pela valorização da luz natural e pelas soluções voltadas à eficiência energética, como os painéis solares que ajudam a aquecer a água da piscina e dos apartamentos.
Pensado visando à troca com a cidade e a integração com o entorno, o Huma Klabin, na Chácara Klabin, em São Paulo, teve o recuo da entrada transformado em um convidativo jardim, estimulando a convivência entre os vizinhos de bairro. Crédito: Divulgação
Vocação Social
Um terreno triangular em um novo bairro em um novo bairro da cidade francesa de Lille e o desafio de pensar um espaço com berçário (70 berços), albergue (200 camas) e um escritório de inovação social e econômica. Essas foram as bases do concurso público que teve como vencedor o escritório internacional JDS Architects. O resultado é a MAISON STÉPHANE HESSEL, concluído em 2016.
Um dos princípios da construção foi posicionar cada programa – berçário, abrigo e escritório – em um ponto separado do triângulo, em vez de separá-los horizontalmente ou mesmo na vertical. A união do conjunto se dá em um pátio central.
Construído na cidade conhecida como a capital industrial do norte da França, o empreendimento foi idealizado para funcionar como um catalisador urbano, estimulando a crescimento do bairro. Por isso, seus cantos são levantados, convidando à interação das pessoas no espaço aberto que fica embaixo dessas grandes estruturas. Nesses vãos, são realizadas atividades públicas e esportivas, fazendo com que a penetração do complexo vá além de suas paredes, atenuando a linha entre o público e o privado.
A Maison Stéphane Hessel, na cidade francesa de Lille, reúne albergue, berçário e escritórios e foi construída com a missão de ser um catalisador urbano, estimulando a crescimento do bairro. Crédito: Jalie Lanoo/Divulgação
Um dos princípios da construção foi posicionar cada programa – berçário, abrigo e escritório – em um ponto separado do triângulo, em vez de separá-los horizontalmente ou mesmo na vertical. A união do conjunto se dá em um pátio central.
Construído na cidade conhecida como a capital industrial do norte da França, o empreendimento foi idealizado para funcionar como um catalisador urbano, estimulando a crescimento do bairro. Por isso, seus cantos são levantados, convidando à interação das pessoas no espaço aberto que fica embaixo dessas grandes estruturas. Nesses vãos, são realizadas atividades públicas e esportivas, fazendo com que a penetração do complexo vá além de suas paredes, atenuando a linha entre o público e o privado.
Cinco sentidos
O jardim multissensorial ZIGHIZAGHI, em Favara, na Itália, é outro bom exemplo de como a iniciativa privada pode promover lugares de encontro e relaxamento. Assinado pelo escritório OFL Arquitetura, é fruto da colaboração entre a marca de mobiliário Milia Shop e a associação Farm Cultural Park.
O jardim nasceu da vontade da Milia Shop de criar um local de acolhimento para os moradores e doar à cidade um espaço público inovador, criado a partir da combinação perfeita de madeira e vegetação. O desejo da marca de expressar sua ligação com a biologia serviu de base para o jardim, inspirado nas formas que as abelhas são capazes de replicar: hexágonos.
Graças a seu caráter interativo, o Zighizaghi se tornou um ambiente dinâmico, onde a música é um veículo entre a natureza e os visitantes. O jardim conta com um sistema de irrigação automático e plantas mediterrânicas selecionadas para se adequarem ao contexto ambiental do bairro.
Combinando madeira e vegetação, o jardim multissensorial Zighizaghi é fruto da vontade da marca de mobiliário Milia Shop de criar um local de acolhimento para os moradores de Favara, na Itália, e doar à cidade um espaço público inovador. Crédito: Divulgação
Crédito: Texto Tatiana Engelbrecht
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Publicado em: 17/05/2017
Categoria: Arquitetura e cidade