Soluções em sintonia com a natureza

Até 2050, a população mundial deve chegar a 10 bilhões de pessoas, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU). Isso significa que, em poucas décadas, serão mais 2,6 bilhões de cidadãos disputando o espaço – principalmente urbano – e os recursos naturais do planeta. Diante dessa perspectiva e da escassez cada vez mais iminente de recursos essenciais como água e alimentos, a arquitetura vem buscando alternativas capazes de reduzir o impacto ambiental das construções sem deixar de lado o conforto, o design e a tecnologia.

Projetos com soluções pensadas para favorecer a livre entrada de iluminação natural e o conforto térmico, ou então baseados no uso de materiais naturais e locais são apenas alguns exemplos de uma vertente que deve se fortalecer cada vez mais: a arquitetura sustentável. Isso sem contar as comunidades autossuficientes que começam a ser projetadas e construídas em várias partes do mundo. A seguir, conheça alguns desses projetos.

A fachada ventilada do Forma Itaim (à esquerda) e o uso do vidro no Huma Klabin (à direita), empreendimentos da Huma em São Paulo, favorecem a ventilação natural e a entrada de luz, reduzindo o consumo de energia. Crédito: divulgação

Forma Itaim e Huma Klabin

Com assinatura do renomado arquiteto espanhol Fermín Vázquez, fundador do escritório b720, o Forma Itaim combina localização estratégica, no Itaim Bibi, em São Paulo, e design contemporâneo. O destaque neste empreendimento da Huma são os recursos que unem estética, funcionalidade e economia de recursos naturais.

Pensada para manter a temperatura no interior dos apartamentos agradável e contribuir para a melhor conservação do prédio, a fachada ventilada, toda revestida de cerâmica alemã, é um elemento-chave do projeto. As placas foram instaladas em forma de mosaico, fazendo com que as cores e o brilho valorizem a estética e cumpram a importante função de reduzir o uso de ar-condicionado e aquecedor. “Comum na Europa, a técnica construtiva de fachada ventilada proporciona um excelente comportamento térmico-energético à torre”, destaca Fermín Vázquez. O resultado é uma diminuição do consumo de energia elétrica, tanto nos apartamentos quanto no condomínio.

Previsto para ser concluído em abril de 2017, o Forma Itaim tem ainda um hall todo envidraçado, com pé-direito duplo, e elevadores panorâmicos, que recebem luz natural. Seguindo o conceito já posto em prática no elogiado Huma Klabin, na Chácara Klabin, o empreendimento também terá um bicicletário. O objetivo é contribuir para uma cidade menos congestionada – e menos poluída – e cidadãos mais saudáveis.

Já no Huma Klabin, na zona sul de São Paulo, a arquitetura com inspiração modernista, projetada pelo premiado Una Arquitetos, privilegia a incidência de luz natural. Ela faz a diferença desde a entrada, valorizando o pé-direito duplo, até o hall social dos elevadores. Mas é nos apartamentos com varanda generosa e quartos com uma das paredes de vidro que a iluminação natural se mostra mais encantadora. Também para favorecer a entrada de luz, o espaço gourmet foi quase totalmente envidraçado.

Além da fachada ventilada, revestida de cerâmica alemã, o Forma Itaim (à esquerda) também terá bicicletário, assim como o Huma Klabin (à direita). Crédito: divulgação

Orange Cube

Erguido na zona portuária de Lyon, na França, o Orange Cube foi projetado para receber a entrada livre de luz solar e favorecer a ventilação natural. O que mais chama a atenção no projeto é uma enorme perfuração cônica na face principal, que deixa a estrutura interior exposta e transforma as janelas em varandas sombreadas voltadas para o rio. A abertura também facilita a circulação de ar, deixando que o ar quente saia por uma abertura no telhado.

Assinado pelo escritório Jakob + Macfarlane Architects, o edifício abriga uma loja de design no térreo e salas de escritórios nos pisos superiores. A fachada envidraçada é protegida por uma tela metálica na cor laranja com perfurações irregulares, que maximizam a entrada de luz natural e dão mais charme ao desenho.

O Orange Cube, na cidade francesa de Lyon, chama a atenção pela abertura cônica na face principal, que transforma as janelas em varandas sombreadas e favorece a circulação de ar. Crédito: divulgação Jakob + Macfariane Architects

Panyaden School

Uma escola sustentável, concebida com base na relação homem-natureza, benevolente tanto com o meio ambiente quanto com as pessoas. Inaugurada em 2011, na Tailândia, a Panyaden School, projetada pelo 24H Architecture, recebeu vários prêmios de arquitetura e design. Situada próxima à mata exuberante e aos arrozais, foi construída com material local – bambu, terra, palha, areia e pedra – e tem seu desenho inspirado em formas orgânicas.

Além de suportar as variações climáticas e serem mais duráveis, as matérias-primas utilizadas na construção serão devolvidas ao solo ou recicladas novamente ao final de seu ciclo de vida. E a ideia de evitar o desperdício foi ainda mais longe: restos de bambu viraram canecas e buchas para os pregos de madeira e antigas portas de máquinas de lavar foram transformadas em janelas.

A premiada Panyaden School, na Tailândia, foi construída com material local (bambu, terra, palha, areia e pedra) e tem seu desenho inspirado nas formas da natureza. Crédito: divulgação 24h + Macfariane Architecture

Casa Manifesto

Os paletes – estruturas de madeira geralmente usadas para estocar ou transportar produtos – são realmente versáteis. Em vez de serem descartados ou transformados em casinhas de cachorro, eles vêm sendo usados como matéria-prima para as criações de respeitados designers e arquitetos. Com foco na sustentabilidade, os escritórios James&Mau e Infiniski puseram os paletes em primeiro plano na Casa Manifesto.

Construída na Região Metropolitana de Santiago, no Chile, a casa tem 160 metros quadrados e foi concebida a partir de três contêineres cobertos com 140 paletes, que funcionam como uma superfície que protege a construção. Nas épocas quentes, o revestimento evita a incidência excessiva dos raios solares e, no inverno, é possível abri-lo, deixando que o metal dos contêineres seja aquecido naturalmente. Um material com acabamento estético interessante, leve, e que possibilitou dispensar o uso de aquecedores e ar- condicionado.

A Casa Manifesto, no Chile, teve seu projeto pensado a partir de paletes reaproveitados: no verão, a estrutura favorece a ventilação natural e, no inverno, pode ser aquecida naturalmente. Crédito: divulgação James&Mau Infiniski

Crédito: Texto Tatiana Engelbrecht