Tipologias residenciais, modos de morar e fronteiras entre o público e o privado
Crédito: acervo Huma
No dia 13 de abril, no segundo encontro do nosso ciclo de palestras e debates Reflexões Urbanas, recebemos a jornalista Natália Garcia, o incorporador Leandro Abreu e a arquiteta Ligia Nobre para conversar sobre o tema das tipologias residenciais e dos diferentes modos de morar.
O objetivo dessa conversa foi imaginar como os edifícios podem se relacionar melhor com a rua e o bairro, abrigar uma diversidade de usos e de pessoas e promover a convivência dentro da cidade.
Autora do blog Cidades para Pessoas, a jornalista Natalia Garcia começou sua fala questionando que relações estamos estabelecendo entre o espaço privado e o espaço público. Ela contou histórias e mostrou exemplos para mostrar que se ao invés de produzirem segregações, os espaços forem capazes estimular a diversidade o que se ganha é um fluxo maior de possibilidades: “quando a gente diminui as diferenças para criar ambientes cada vez mais padronizados a gente restringe as possibilidades”.
Como exemplo de que é possível e saudável promover conexões entre as diferenças, Natália citou o Instituto de Sustentabilidade de Portland, criado pela Prefeitura para fazer conexões entre setores que classicamente não conversavam entre si: o mercado imobiliário, a academia e a sociedade civil. Ao ver diversos exemplos da atuação desse órgão pudemos perceber os benefícios e a importância da comunicação e das parcerias público-privadas, que podem ser feitas pelo bem da cidade. Outras iniciativas citadas, como a ocupação criativa de vagas de carro em São Francisco e as hortas urbanas em Nova York, serviram para mostrar que há possibilidades de ação para que todo mundo saia ganhando.
Outro ponto importante levantado pela jornalista é a criação de novas réguas econômicas, novas medidas para detectar novos parâmetros de valor. O melhor exemplo foi um estudo da cidade de Copenhague, que descobriu que a cada Km percorrido por um carro, a cidade perde R$0,30 enquanto a cada Km percorrido de bicicleta a cidade ganha R$0,70. “Aprender a medir novas coisas faz com que a gente aprenda a fazer novos negócios também e deixar legados mais interessantes para a cidade”.
A arquiteta Ligia Nobre falou sobre dois ícones da arquitetura de São Paulo: o Copan e o Conjunto Nacional, que são exemplos de edifícios que acolhem o morar e a convivência, promovem uma diversidade de pessoas e de usos e podem ser referências para projetos futuros. Ironicamente, esses prédios tão saudáveis para a cidade não poderiam ser feitos novamente com a legislação atual, o que nos leva a questionar a importância de lutar por reformulações no Plano Diretor, que considerem as necessidades específicas de uma grande metrópole, em busca de uma identidade para São Paulo que possa incluir uso misto, densidade e diversidade.
Leandro Abreu, que é arquiteto e atua no mercado imobiliário, falou do ponto de vista de um incorporador sobre os mecanismos e oportunidades que o mercado tem à disposição para atuar na transformação da cidade. Segundo ele, uma cidade bastante densa pode funcionar muito bem, mas exige que a apropriação do espaço se dê de forma eficiente. Leandro esclareceu que muitas vezes os incorporadores respondem às demandas do mercado quando planejam um empreendimento, porque sabem que os potenciais compradores serão conquistados de acordo com as vantagens que cada empreendimento oferece. Por exemplo, colocam-se diversos serviços dentro de um empreendimento para que o morador não tenha que sair de casa, por uma questão de conveniência, devido aos problemas do trânsito, de falta de tempo, de ineficiências da cidade. Por isso, com todas as dificuldades que existem para viabilizar a compra de um terreno, o mercado imobiliário acaba ficando “viciado” em repetir os mesmos modelos de empreendimento, que já se comprovaram viáveis e lucrativos. Como solução para que o setor privado seja estimulado a produzir empreendimentos que sejam melhores para a cidade, Leandro defende que sejam criados incentivos para despertar o interesse por soluções que trazem benefícios à comunidade.
As palestras e o debate foram muito enriquecedores e esperamos que essas reflexões possam sempre se ampliar e se propagar! Para quem não pôde estar presente, e como forma de registrar o evento, produzimos este vídeo com os trechos mais importantes de cada fala. Os comentários serão muito bem-vindos!
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Publicado em: 13/05/2013
Categoria: Arquitetura e cidade